quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Intendentes e Prefeitos de Xiquexique

INTENDENTES E PREFEITOS DE XIQUEXIQUE

A partir desta data estaremos comentando sobre os vários Intendentes e Prefeitos que administraram a cidade a partir da proclamação da República. Como o espaço do Blog não dá para se fazer uma biografia completa de cada um desses administradores daremos apenas uma rápida visão panorâmica da administração de cada um desses Chefes do Poder Executivo. O objetivo é que a geração mais nova tome conhecimentos das pessoas que administraram a cidade por seis décadas, a partir da Proclamação da República e até 1948 quando foi eleito o primeiro Prefeito pela via democrática. Esclarecemos que estamos nos louvando no livro "Senhor do Bonfim e Bom Jesus de Chique-Chique (História de Chique-Chique)" Ed. 1999, de autoria do ilustre professor e pesquisador CASSIMIRO MACHADO NETO, a quem damos, na oportunidade e previamente, os créditos pela divulgação da matéria.
Com a Proclamação da República em 1889 que resultou no banimento e o exílio da Família Imperial os municípios passaram por uma reformulação, quando as funções administrativas passaram a ser exercidas por intendentes e por um conselho municipal. O Município e a Vila do Senhor do Bonfim e Bom Jesus de Chique Chique, antigo nome da cidade de Xiquexique, cuja área foi desmembrada do município de Jacobina (BA), teve sua emancipação política em 23.10.1834 e sua primeira câmara de vereadores foi composta pelos senhores: Álvaro Antônio de Campos, Antônio Joaquim de Novais Sampaio, Ernesto Augusto da Rocha Medrado, João Xavier da Costa, Clemente Sancho Pereira da Franca.Manoel Netto Martins e Francisco Antônio da Rocha.
Dessa data e até 1889 com o surgimento da República, Xiquexique atravessou períodos de turbulência e briga entre as facções políticas existentes, inclusive com disputas a bala entre os contentores. Abaixo, alguns eventos dignos de nota que aconteceram em Xiquexique, nesse período:
1938 – Foi criada a Guarda Nacional da cidade;
1842 – Toma posse como Juiz de Direito o Dr. João Maurício Wanderley, nascido na cidade da Barra (BA) e futuro Barão de Cotegipe;
1848 – Surgem as primeiras crises políticas e violências na vila de Xiquexique;
1849 – Conclui-se a reforma da Igreja Matriz do Senhor do Bonfim;
1857 – Criada em Xiquexique Comarca de 1ª Entrância;
1870 – Começa o período áureo da borracha de maniçoba;
1877 – Entram em luta o Partido Liberal (Pedra) e o Partido Conservador (Marrão), quando Xiquexique chega a ter duas câmara municipais.

A partir da proclamação da República, em 1889 e o fim do governo Imperial, Marechal Deodoro da Fonseca assume o governo do Brasil em fevereiro de 1891, promulga a Constituição Republicana e a Bahia deixa de ser Província e passa a denominar-se de Estado da Bahia.
Em novembro de 1889, Manuel Vitorino Pereira, é nomeado para governar o estado da Bahia, tendo passado na chefia do governo, cinco meses e três dias, de Nov/1889 a abr/1890. Logo que assumiu o governo, Manoel Vitorino recebeu carta assinada pelo xiquexiquense Cel. Gustavo Magalhães Costa, (foto), contando em detalhes a situação caótica da política em Xiquexique. Veja a íntegra da carta:

Em nome do Partido Liberal desta Vila e de seu Termo dirijo-me a V. Exª. significando um voto de franco apoio e leal adesão ao novo Governo Republicano que acaba de inaugurar-se sob os aplausos do heróico povo brasileiro, que mais uma vez soube dar prova de civismo e do quanto é patriota, concorrendo para a realização de tão grandiosa idéia, de modo assaz digno e louvável, dando por esta forma um ensinamento às Nações cultas, pois sem derramamento de sangue, pois muitas dessas mesmas Nações para obterem reformas de menos transferência e importância lhes tem custado luta, e luta fratricida.
Eu, como mero cidadão, que sempre vivi na obscuridade, regurgitando de satisfação e prazer por ver meu País marchar para o apogeu da grandeza promovendo os meios de que mais carecemos, que são o do direito de igualdade, união e fraternidade, peço permissão a V. Exª. para aproveitar o presente ensejo, a fim de fazer algumas ponderações a respeito desta infeliz Vila para o que solicito de V. Exª. um pouco de atenção.
Não deve ser estranho a V. Exª. as lutas políticas desta terra, que tem sido, por infelicidade de seus habitantes, teatro de cruentas cenas, onde todos os atos de barbaridade e vandalismo se tem praticado, desde o assassinato, o desrespeito ao santuário das famílias, o roubo, devastação de fazendas e o que é mais, Exm°. Sr., a demolição completa de mais da metade das casas desta Vila, onde causa horror, indignação mesmo o aspecto tétrico dela, onde só se vê ruínas, destroços sobre destroços.
É para lamentar-se que um Termo tão ubérrimo como este, dotado de tantas riquezas naturais, marche para o aniquilamento geral.
Mas, já que me surgiu a aurora que nos deve trazer a liberdade, já que a República veio trazer-nos – como se espera – a garantia do direito e da propriedade, eu, Exm° Sr., suplico, em nome da população pacífica e bem intencionada deste Termo, queira lançar benéficas vistas de V. Exª a esta desventurada parte do Estado da Bahia, do qual V. Exª é mui digno e distinto Governador, e não consinta reprodução desses fatos, que tanto depõem contra os infelizes habitantes e só servem para macular o glorioso nome do Brasil e dar mostras de que nele só reina a ignorância, a selvageria, além da perda considerável de vidas e bens, como desgraçadamente aqui tem acontecido.
Agora mesmo, Exm° Senhor, temos medo do reaparecimento dessas cenas por constar-nos que alguns Conservadores que se haviam retirado desta Vila, levados pelos remorsos de consciência, em virtude dos atos de barbaridades que praticavam contra seus adversários na Situação do seu partido, blasonando que é chegada a época desejada e que nos hão de trucidar do mesmo modo, supondo que, com a redentora Proclamação da República, lhes será permitido aquele mesmo apoio e assentimento dos partidos monárquicos.
Os Liberais desta terra, Exm°. Senhor, só aspiram, só desejam a paz, a tranquilidade, a garantia da ordem e da liberdade individual e seu desideratum estão dispostos a caminhar a fim de levantar este Termo do abatimento em que jaz. Mas tememos que idéia criminosa de meia-dúzia de homens que até hoje tem contado com a impunidade de seus graves crimes, insistam em prosseguir na mesma carreira e deste modo obriguem os mesmos Liberais deixar a estrada da moderação que têm seguido. Convicto da certeza da escolha de V. Exª para Governador e que não seria indiferente à sorte de seus concidadãos, espero que V. Exª usará de escrupulosa isenção na escolha das autoridades desta Vila, procurando sempre homens que venham única e exclusivamente ser a garantia da Lei, da Ordem e do Direito de cada um. Com o que inolvidável serviço a nós, os habitantes de Chique-Chique que sempre havemos de bem dizer e sagrar seu laureado nome.
Saúde e Fraternidade.
Gustavo de Magalhães Costa.
O primeiro intendente eleito, talvez ajudado pelo Governador da Bahia, após o recebimento da carta acima foi, justamente,o Cel. Gustavo Magalhães Costa.
OBS.: Informações extraídas e selecionadas do livro "Senhor do Bonfim e Bom Jesus de Chique Chique" - Ed. de 1999 - Autor: Cassimiro Machado Neto.
JMC/

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