sábado, 12 de junho de 2010

Crônica: As "VARAS" DE BURITI



AS "VARAS" DE BURITI

O BURITI, cujo nome científico é Mauritia flexuosa L, é uma palmeira de grande porte, genuinamente brasileira, com folhas longas em forma de leque, cujos frutos, cobertos com escamas vermelhas, formam grandes cachos pendentes abaixo da copa. É uma planta encontrada geralmente em áreas brejosas ou permanentemente inundadas. Nela, tudo se utiliza, desde a madeira do tronco, moderadamente pesada e dura, as folhas usadas para a feitura de telhados e seus talos largamente usados nos trabalhos artesanais. É uma árvore considerada sagrada pelos índios por dela se obter tudo o que é necessário para a sobrevivência, sendo considerada como a "árvore da vida", significado da palavra buriti na lingua indígena.
Pois bem o buritizeiro é bastante popular nas áreas brejadas que existem nas vizinhanças do município de Xique-Xique (BA), como nos brejos do Icatu, vilarejo situado na margem do Rio São Francisco, pertencente ao Município da Barra e na Gameleira, situada em cima da Chapada Diamantina, onde também existem muitas áreas brejosas.
Por isso, nas feiras livres de Xique-Xique é comum se encontrar o doce de buriti, a raspa de buriti e o bolo de saeta que é uma pasta feita do fruto do buritizeiro e utilizada para fazer doces e refrescos.
Mas, para mim e as demais crianças de Xique-Xique, a parte mais importante do buritizeiro eram os seus talos ou "VARAS", utilizados pela meninada para confecção de brinquedos, já que a gente, naqueles idos da década de 1950, não contávamos com brinquedos industrializados. O talo do buritizeiro ou “”vara de buriti”, como era chamado, é a haste onde se fixam as folhas e que pode medir até 3 metros de comprimento com um diâmetro variando de 2cm a 8cm.
Oriundas geralmente do lugarejo Icatu, essas “varas” eram transportadas em canoas pelo rio São Francisco, pelos mesmos feirantes que ofereciam os produtos alimentícios derivados do fruto e, a partir da tardinha de cada sexta-feira a gente já ficava na "rampa do capim", beira do rio, esperando a chegada dos canoeiros.
A parte mole das varas era coberta por uma casca dura, que chamávamos de “tala de buriti” que quando retirada deixava a mostra o miolo, madeira mole que podia ser trabalhada com uma faca ou canivete bem amolados. A "tala" era aproveita, junto com o miolo mole no fabrico de gaiolas, em substituição ao arame.
Mas, até na aquisição dessas "varas de buriti" o poder econômico se fazia representar e as mais compridas e de maior diâmetro sempre eram adquiridas pelos filhos dos mais ricos da cidade. Os mais pobres e eu estava no meio, tínhamos que nos conformar com a aquisição das "varas" menores e mais finas, praticamente imprestáveis para se fazer brinquedos mais sofisticados. Por exemplo, para a confecção de caminhões de brinquedos somente as varas com um mínimo 5 cm de diâmetro eram utilizadas. De um modo geral as varas mais finas, da ordem de 2 a 3 cm de diâmetro apenas serviam para a confecção de gaiolas para aprisionar passarinhos.
E assim íamos levando a vida de menino pobre em Xique-Xique, que, até para se comprar uma “vara de buriti” faltava dinheiro. Mas, isso não era motivo para lamentações. Mesmo com as “varas de buriti” menores e mais finas a gente era capaz de, com habilidade e imaginação, fazer os brinquedos que nos deleitavam durante muito tempo.

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