domingo, 12 de setembro de 2010

Crônica: A HISTÓRIA DO HOSPITAL DE XIQUE-XIQUE (BA)


A HISTÓRIA DO HOSPITAL DE XIQUE-XIQUE (BA).
Juarez Moraes Chaves

Na segunda metade da década de 1940, o Governo Federal, na época comandado pelo Mal. Dutra, decidiu implantar uma rede de hospitais públicos em várias cidades do interior do Brasil, tendo o Vale do São Francisco sido uma das regiões escolhidas e dentro dessa região figurava a cidade de Xique-Xique (BA), como beneficiária do programa.
As cidades que estavam situadas dentro do Vale do São Francisco tiveram a COMISSÃO DO VALE DO SÃO FRANCISCO, intituição que tinha como objetivo promover o desenvolvimeno das cidades são franciscana, escolhida para coordenadora desse empreendimento e com a responsabilidade de acompanhar o andamento das obras dos hospitais em todas as comunidades ribeirinhas.
Por incrível que pareça Xique-Xique foi a única que não foi contemplada com a conclusão do seu hospital quando findou o governo Dutra, no ano de 1950, ocasião em que as demais cidades festejavam a felicidade de contar com uma instituição destinada a cuidar da saúde dos seus munícipes.
O hospital de Xique-Xique, ficou com a construção civil inacabada, por que grande parte da verba federal destinada à construção não chegou a Xique-Xique ou, se chegou, foi indevidamente aplicada pela Comissão do Vale do São Francisco coordenadora e controladora das obras em todas as cidades ribeirinhas. Segundo a tradição vigente na cidade, desviaram o dinheiro federal que havia sido destinado à construção e instalação do hospital de Xique-Xique.
Lembro-me que por mais de 20 anos a construção que fora iniciada no ano de 1946, ficou totalmente abandonada, com grande parte das paredes sem reboco e sem telhado servindo para abrigo de animais (jumentos, cabras, carneiros e bovinos) além de bastante utilizado como sanitário e mictório público.
Quando a gente, no início da adolescência, se aventurava a catar favela ou apanhar umbus lá pelas bandas da estrada da Barra, lado sul da cidade e arriscava-se a entrar no prédio inacabado do hospital, podia-se constatar o triste abandono da obra. Paredes carcomidas pelo tempo, telhas faltando em face do constante furto e o mato, principalmente a malva, tomando conta de toda a área onde se situava a construção em ruínas. Era de fazer dó.
E, o pior, foi que as nossas autoridades municipais, se acomodaram ou se acovardaram com a situação, não tomaram nenhuma providência para apurar o desvio da verba do hospital e aceitaram, omissa e criminosamente, que a obra inacabada se deteriorasse inexoravelmente ao longo de 20 anos, e agiam como se tudo estivesse correndo as mil maravilhas. Em nenhum momento se preocuparam em solucionar o grave problema da não conclusão do hospital de Xique-Xique por causa do desvio das verbas federais.
Relacionamos a seguir, os nossos Prefeitos, Vereadores, Deputados Estaduais e Federais ligados a Xique-Xique, que durante 20 anos omitiram-se completamente com relação à obra inacabada do Hospital Xique-Xique, cuja conclusão não aconteceu por desvio da verba federal a ele destinada no Governo Dutra:
I) Prefeitos Municipais de 1948 a 1967:

1 - Aurélio Gomes Miranda – 1948/1951;
2 - João Rodrigues Soares – 1951/1955;
3 - José Peregrino de Souza (Cazuza) – 1955/1959;
4 - Francisco Marçal da Silva - 1959/1963
5 - Joel Firmo de Meira – 1963/1967.

II) Vereadores de 1948 a 1967

1 – Legislatura 1948/1951: Custódio B Moraes, Domingos Leandro Machado, Eusébio Ferreira de Brito, Felinto Pires Maciel, Francisco Marçal da Silva, Marinho Pereira de Carvalho, Naylor de Souza Nogueira e Samuel Rodrigues Soares.
2 – Legislatura 1951/1955: Antonio Ribeiro Maciel, Aristóteles Marçal da Silva, Custódio B. Moraes, Domingos Leandro Machado, Francisco Joaquim de Carvalho, Francisco Nunes de Souza, Naylor de Souza Nogueira, Pedro da Rocha Machado e Vital Gonçalves de Carvalho;
3 – Legislatura 1955/1959: Artur José do Bonfim (Marrecas), Benjamim Alves de Almeida (Copixaba), Cantídio Pires Maciel (Central), Eliezer Rocha (Uibaí), Eusébio Ferreira de Brito (Central), Francisco Nunes de Souza (Sede), José Clemente da Cunha (Sede), Pedro da Rocha Machado (Uibaí), Pedro Machado (Chapada do Jacaré), Samuel Rodrigues Soares (Sede) e Valdomiro do Rosário Borges (Sede);
4 – Legislatura 1959/1953: Aristóteles Marçal da Silva, Cleófano Dourado Lopes, Florisval Torres da Silva, Francisco Alves da Costa, Geraldo Regis de Oliveira, Humberto de Souza Nogueira, José Barbosa e Silva, José Clemente da Cunha, José Peregrino de Souza, Prim Gomes Barreto e Salvador Teixeira de Queiroz;
5 – Legislatura 1963/1967: Aurelino Macedo Souza, Clóvis Peregrino de Souza, Custódio B Moraes, Domingos Alves da Costa, Francisco Marçal da Silva, Geraldo Regis de Oliveira, João Ferreira Filho, José Peregrino de Souza e Manoel Alves Bessa.

III – Deputados Estaduais:
1948/1951 – Adão Moreira Bastos
1951/1955 – Adão Moreira Bastos
1955/1959 – Djalma Alves Bessa, José Oliveira Bastos e Clemens Sampaio
1959/1963 – Djalma Alves Bessa e José Oliveira Bastos;
1963/1967 – Djalma Alves Bessa
1967/1971 – Djalma Alves Bessa e Dílson de Souza Nogueira.

IV – Deputados Federais:
1948/1951 – Manoel Novais e Luiz Viana Filho
1951/1955 – Manoel Novais e Luiz Viana Filho
1955/1959 – Manoel Novais e Luiz Viana Filho
1959/1963 – Manoel Novais e Luiz Viana Filho
1963/1967 – Manoel Novais e Luiz Viana Filho
1967/1971 – Manoel Novais

Não há como explicar a omissão dessa considerável quantidade de xiquexiquenses ilustres e legisladores federais votados em Xique-Xique, que não moveram uma palha no sentido de apurar as causas da não conclusão do hospital. Parece até que estavam anestesiados tal o descaso e a desídia com que trataram o assunto.
Pela lista de Prefeitos, Vereadores e Deputados Estaduais e Federais, acima listados, pode-se constatar que fica difícil entender a falta de interesse desses homens públicos em resolver uma causa de suma importância para a cidade.
Durante, pois, os 20 anos em que a obra parada do hospital ia se deteriorando pelo total abandono, as pessoas, não só de Xique-Xique mas de toda a região, até a cidade de Central, tinham que se submeter a uma viagem altamente desconfortável até a cidade da Barra, distante 72 km, quando precisavam de algum atendimento hospitalar. E, diga-se, que naquele tempo a viagem de Xique-Xique a Barra era feita por vapores, quando incertamente aportavam em Xique-Xique, por barcas ou por “jeeps” e “Rurais”, únicos veículos rodoviários em condições de enfrentar a precária estrada carroçável que, sem rumo certo e aos solavancos nos extensos areais, serpenteavam por entre o nativo carnaubal e, somente os motorista espertos conseguiam chegar ao destino, com o paciente em estado mais grave do que quando saiu de casa.
Mais melancólicos e descrentes com os políticos da época, ficavam os passageiros moribundos quando, mal acomodados dentro de um “jeep” ou uma “Rural”, passavam em frente ao hospital inacabado, que era o último imóvel no lado sul da cidade e onde se iniciava a arenosa estrada carroçável para a Barra
Esse sofrimento imposto às pessoas doentes e, portanto as mais necessitadas do apoio público, bem como a omissão e descaso dos nossos políticos locais permaneceram até o ano de 1966, quando, durante a campanha para prefeito municipal, o empresário José Barbosa e Silva, empresário bem sucedido, homem religios, de bom carater e um dos candidatos ao cargo majoritário, sensibilizado com o sofrimento dos xiquexiquenses, elegeu, levado por uma justa indignação, como principal plataforma do seu governo, caso eleito, a retomada da construção do hospital e a sua conseqüente inauguração.
O candidato José Barbosa tinha pleno conhecimento de que o erário de Xique-Xique não suportaria tal empreendimento e que talvez a sua promessa de campanha não pudesse ser cumprida. Mas, a emoção foi maior que a razão e confiando na sensibilidade dos empresários e da comunidade como um todo tinha convicção de que o sonho poderia ser realizado.
Lembro-me de que nesse tempo eu trabalhava na Agência do BNB em Petrolina (PE) e, ao tomar conhecimento de tão vultosa promessa de campanha cheguei a, inicialmente, considerá-la como pura demagogia, pensamento que logo foi desfeito pelo conhecimento que tinha do candidato promitente. Confesso que exultei de satisfação ante o fato de o candidato José Barbosa tomar a iniciativa de reerguer a importante obra que vinha, há 20 anos, desafiando inúmeros líderes políticos xiquexiquenses e legisladores estaduais e federais que ali compareciam em busca, exclusivamente, de votos.
Para a população que assistiu e acompanhou o descaso e o abandono, da obra por 20 anos, a atitude, naturalmente, era de descrença, mas, levada por uma vintenária esperança rendeu-se ao sonho revivido e alimentado na campanha eleitoral e, confiante no caráter do candidato o escolheu como o seu prefeito municipal, que tomou posse no dia 07 de abril de 1967.
Dia seguinte o novo prefeito já tomava todas as providências para implementar a sua principal promessa de campanha: concluir e inaugurar o hospital de Xique-Xique.
Sabia, muito antes de assumir o Executivo que a Prefeitura não tinha recursos para tal empreitada. Precisava, pois, contar com a sensível mobilização do povo xiquexiquense e do empresariado local.
Começou então um lento trabalho de contatos pessoais e convencimento dos líderes da cidade para a grande tarefa que pretendia iniciar. Conversou com as lideranças civis e políticas da cidade e verificou que o sonho do hospital ainda continuava vivo no coração da maioria das pessoas.
Foi orientado por assessores jurídicos no sentido de criar uma instituição que fizesse o papel de mantenedora do hospital e que se responsabilizasse pela arrecadação dos recursos necessários e pela administração da conclusão do hospital.
Assim foi criada a Sociedade Assistencial de Xique-Xique – SAXXE, da qual participaram como fundadores as lideranças locais representativas das diversas atividades econômicas de Xique-Xique, além dos segmentos religioso e social da cidade. Foi um apoio total que surpreendeu até mesmo o Prefeito José Barbosa, vez que até os deputados que durante 20 anos omitiram-se sobre o assunto, ficaram do lado do prefeito e se comprometeram em ajudá-lo em tudo que fosse possível.
Fortalecido com o apoio recebido da comunidade o Prefeito deflagrou o início das atividade da SAXXE e a retomada da construção do sonhado hospital de Xique-Xique contou com a efetiva colaboração de todos. Formou-se um gigantesco mutirão no qual se envolveu não só o povo da sede do município mas também os que moravam nos diversos distritos de Xique-Xique. Todos queriam participar da grande obra que seria a redenção da cidade.
Mas, somente a boa vontade, os pequenos recursos da Prefeitura e as doações do povo em geral mostraram-se insuficientes para a realização do grande sonho. Logo o Prefeito constatou que necessário seria o envolvimento do Governo Estadual para que as verbas chegassem em quantidade suficiente para a instalação do Hospital.
Foi a vez de ocupar o deputado estadual Dílson Nogueira e o deputado federal Manoel Novais, para, juntos, pelo menos conseguirem uma audiência com o agora governador Luiz Viana Filho que durante muitos anos, de 1948 a 1967, exerceu o mandato de Deputado Federal e sempre visitava Xique-Xique à busca de votos.
Audiência conseguida, restou ao Prefeito, junto com a diretoria da SAXXE, fazer uma ampla exposição de motivos sobre a história do hospital cuja obra inacabada desde 1946 estava tentando recuperar, inaugurar e entregar ao povo de Xique-Xique.
O então Governador Luiz Viana Filho que durante os 20 anos em que o hospital permaneceu inacabado exerceu a função de Deputado Federal e nada fez em benefício desse pleito tão importante para a cidade, resolveu como que se redimindo da longa omissão, encampar o projeto do Prefeito José Barbosa, prometendo os recursos necessários à conclusão do hospital.
O Deputado Federal presente à Audiência ao tomar conhecimento da decisão do governador também resolveu se redimir do longo silêncio de 20 anos e se comprometeu com o Prefeito para que nada faltasse à obra que estava sendo reerguida.
Foi a vitória do sonho e isso fez o Prefeito José Barbosa retornar a Xique-Xique portando a boa notícia de que o hospital seria concluído com a maior urgência possível pois para isso não faltariam recursos do governo estadual. Palavras do Governador.
Concluído o primeiro trimestre de 1970 o hospital de Xique-Xique estava praticamente concluído faltando pequenos detalhes para a completa inauguração. O povo radiante era só no que falava. Mesmo com os recursos do governo estadual chegando, a comunidade não parou de contribuir com as doações daquilo que achava necessário para o perfeito funcionamento do Hospital, de colchões a maços de algodão.
Concluída a obra, o prefeito José Barbosa, assessorado pelos seus auxiliares mais próximos, resolveu que a inauguração do Hospital seria no dia 13 de junho data de aniversário de Xique-Xique e que, numa espécie de homenagem e agradecimento ao Governador da Bahia que tudo fizera para o ressurgimento daquela instituição o Hospital teria o nome da sua mulher JULIETA VIANA.
Assim, no dia 13 de junho de 1970, com a cidade enfeitada e o prefeito José Barbosa único herói do grande acontecimento, naquele momento cercado pelo Governador da Bahia e sua mulher, cercado, também, por deputados, senadores, prefeitos, vereadores e demais autoridades civis que com grande espanto viam a realização do sonho de um prefeito, deu por inaugurado a grande obra que por mais de 20 anos foi a grande esperança do povo de Xique-Xique.



Nenhum comentário:

Postar um comentário