domingo, 11 de março de 2012

Crônica: MINHA VIDA BANCÁRIA

De 1964 a 1995, trabalhei como bancário numa instituição financeira federal e, no exercício da minha profissão, percorri os Estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Ceará, onde me aposentei, tendo fixado residência em Fortaleza. Durante esse período de 31 anos assisti e participei de muitas coisas que aconteceram dentro e fora das Agências Bancárias, tendo registrado algumas delas, as quais passo a divulgar, por interessantes. Os nomes dos colegas e das Agências não são divulgados por questão de ética.



O AUDITOR E O MCR


Juarez Morais Chaves
MCR para os não iniciados é o apelido do MANUAL DE CRÉDITO RURAL editado e mantido pelo Banco Central do Brasil - BACEN.

Qualquer pessoa pode se dirigir àquele Banco e fazer uma assinatura desse manual, passando, periodicamente, a receber as folhas de atualizações normativas, em substituição às que de tempos em tempos são revogadas.

Os bancos privados, por comodismo, simplesmente fazem as assinaturas do MCR e enviam cada exemplar para suas agências ficando estas encarregadas de manter o normativo atualizado com as novas folhas editadas e enviadas pelo BACEN.
Mas, o Banco que trabalhei, por dispor em sua Direção Geral, de um especializado Departamento Rural, preferia ter um trabalho adicional transcrevendo as normas do Banco Central para o Manual de Operações, de uso interno, utilizado em todo procedimento do crédito rural feito por todas as agências do Banco.
Eu, a exemplo dos demais colegas, não tinha nem conhecimento da existência de um Manual de Crédito Rrural - MCR editado e mantido pelo Banco Central, até o dia em que um cliente da Agência onde trabalhava e exercia a chefia do setor rural, lá pelos idos de 1973, perguntou-me se determinado programa de crédito rural instituído pelo BACEN já estava sendo implementado pelo Banco.

Ante o fato de o cliente estar sabendo detalhes do referido programa, informei-lhe que não tínhamos recebido nenhuma instrução, e então perguntei-lhe como tomara conhecimento do assunto. Respondeu-me com toda a simplicidade que era assinante do Manual de Crédito Rural – MCR do Banco Central e recebia, em casa, todas as novidades relacionadas àquele crédito especializado.

Despertei para o assunto e como não consegui que a Agência fizesse uma assinatura do MCR eu mesmo, às minhas expensas, procurei o BACEN e fiz uma assinatura do Manual. A partir daí passei a receber, junto com todos os assinantes, as normas emanadas do Banco Central relacionadas com o Crédito Rural.
Quando as folhas do nosso Manual de Operações, interno, chegavam na Agência com as "novidades" do Crédito Rural eu já tinha conhecimento do assunto com mais de 30 dias de antecedência, pois esse era o tempo gasto pelo Banco para atualizar o seu manual com base no MCR do BACEN.

O MCR, então, passou a fazer parte das minhas ferramentas de trabalho, constantemente exposto sobre a minha mesa e nunca mais um cliente me pegou desprevenido sobre as normas do Crédito Rural emitidas pelo BACEN.
Achava a coisa mais natural do mundo a exibição do MCR sobre a mesa, até o dia em que chegou uma equipe de Auditores do Banco para uma inspeção de rotina, sendo um deles conhecedor das normas do crédito rural.
Ao adentrarem no setor onde eu trabalhava os olhos experientes daquele auditor imediatamente se dirigiram para o exemplar do MCR e numa voz ameaçadora inquiriu-me o motivo de eu estar usando aquele manual se o mesmo era de uso exclusivo da Direção Geral do Banco.

Estranhei a informação sobre a exclusividade mas, com todo o respeito respondi-lhe que era assinante junto ao BACEN, pois tinha interesse em conhecer as normas. Disse-me o auditor que não precisava estar lendo o MCR pois o Banco já me dava, através do Manual interno, todas as normas devidamente esclarecidas e prontas para serem usadas.

Conclusão: o MCR era desnecessário. Recomendava, portanto, que sendo um objeto particular, levasse-o para casa e não mais o utilizasse na agência, pois isso era um desprestígio para com o trabalho da Direção Geral. Só faltou dizer que eu estava cometendo uma heresia.
Como estava começando a minha vida no Banco e não querendo polemizar com os provectos inspetores, principalmente com aquele que se julgava profundo conhecedor do crédito rural, coloquei o MCR debaixo do braço e continuei me atualizando, antecipadamente, sobre as novidades do crédito rural só que em domicilio já que estava proibido de manter o MCR sobre a mesa de trabalho.

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